domingo, 20 de dezembro de 2009




O BRILHO DE UMA NOVA ESTRELA

                                                     GERALDO LIMA

Estamos prestes a festejar o nascimento daquele que, apenas com palavras e gestos simples, mudou a visão de mundo no Ocidente. Ele nos ensinou uma nova ética: o amor e o respeito ao próximo. Acho que isso abarca tudo, tanto o que se refere ao ser humano quanto ao que se refere à natureza. E não é preciso ser  ligado a essa ou àquela religião para ver nisso um bem. Eu, que me avizinho dos limites da descrença, do quase ateísmo,  tenho nisso o meu norte. Mas há os que, mesmo fazendo uso da palavra divina, do sagrado, pisam na ética, agem contra a felicidade dos outros.
Sabem aonde quero chegar, não sabem?
Merecíamos um final de ano diferente, não no sentido do que tradicionalmente se comemora (tradição é tradição, sagrado é sagrado), mas, sim, no que se refere à “res publica”. Para ser mais claro: ao que se refere à administração da coisa pública, do bem coletivo. Pois é, parece-me que, infelizmente,  adentraremos 2010 sob os efeitos de um novo escândalo na administração pública brasileira.  Agora, para piorar ainda mais a imagem de Brasília, sempre associada aos abusos da política, a coisa estourou bem aqui, no coração do país.
Quando pensávamos que estaríamos livres dos escândalos, pelo menos por algum tempo, eis que abriram a Caixa de Pandora e de lá saltaram os males, as bandalheiras do governo local. O duro é aguentar a hipocrisia, a tentativa dessa gente de nos convencer de sua inocência quando as imagens não deixam margem à dúvida. Na verdade, querem nos dizer com a maior desfaçatez: “Eu, como bom político, posso continuar a enganá-los apesar do óbvio”. Como se ser político fosse isso. Para o filósofo grego Platão,  o “bom governo depende das virtudes dos bons governantes”.  Se for assim, estamos ferrados! Que virtudes essa gente tem?!
Oh, mas a vida é uma caixinha de surpresas, e, enquanto “essa gente ruim” (como canta Alceu Valença na música Desprezo) espalha o “merdal”, enxovalha a vida pública, eis que, como a flor drummondiana que brota no asfalto, mesmo em meio ao tédio e ao nojo, diante da ausência do tempo de completa justiça, eis que, num cenário podre como esse, brota uma flor, um ser que parece predestinado a nos encantar. “Façam completo silêncio, paralisem os negócios,/garanto que uma flor nasceu.”
Falo, meus caros, da menina Crystal do Espírito Santo que, no Fantástico do dia 06 de dezembro, nos emocionou com o seu talento precoce. Com apenas dez anos de idade, ela já toca piano com uma desenvoltura de gente grande. E o mais fantástico dessa história toda: sua condição social tornava improvável a possibilidade de ela ter acesso ao universo da música erudita. Pobre e vivendo na periferia, tinha tudo para não acontecer. Mas, como a flor drummondiana que fura o asfalto, ela furou o cerco da miséria e brilhou.  É ver e sentir vontade de chorar de emoção. A menina vai longe, pois tem talento, inteligência, humildade e perseverança. Agora  vamos torcer para que a ação “dessa gente ruim”, que sempre se propõe a nos governar, não apague nunca o brilho e o encanto da menina Crystal. Que seja ela a estrela que  nos resgate da desilusão que nos ronda neste fim de ano.
(Esta crônica foi publicada também na revista eletrônica Nós – fora dos eixos e no Jornal de Sobradinho)

2 comentários:

  1. Amigo, você sempre expressa o que sinto e não encontro tão acertivamente palavras para dizer e me ajuda a enxergar o que olho e nem sempre consigo ver...Linda crônica! Jeanne

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  2. Jeanne, minha amiga, seu comentário me deixou muito feliz. Espero que o meu texto continue sempre a fazer sentido para você. E muito obrigado por seguir meu blog.

    UM ABRAÇÃO!!!

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