terça-feira, 13 de setembro de 2011

Do alvor de tesselas multicoloridas ao breu que berra catedrais


Por Denison Mendes

____Tece o mosaicontista ora tesselas imaculadas e transparentes ora o inexpugnável breu. Com maestria tesselária, subverte a natureza das coisas, palavras, espaço e tempo. Chegam ao paroxismo homem-quase, tamanha a capacidade artesã de cinzelar o instante e eternizar imagens.

____O tesselário ama a pedra, o vidro, o mármore, o granito... porque não os vê como tal, ele os enxerga como sujeitos a serem libertos da substância primitiva. Assim o faz Geraldo Lima, no livro Tesselário. O verbo é sua matéria-prima, e o resultado são mosaicos de rara beleza e transcendência.

____Logo de cara, a primeira tessela avisa cuidado. Mulher de organdi prima pela concisão e imagens a cirandear no pensamento. Olhos abertos. Eutanásia suspira em cinco linhas o que se tenta explicar em tratados. Já em Tesselário, que dá nome à obra, sentimos de perto o próprio Geraldo Lima, como se estivéssemos ao seu lado observando a angústia de sua criação.

____Terminada a primeira parte, respire e tome fôlego. Se tiver medo do escuro, acenda a luz. Aviso: não vá pensar que as letrinhas brancas no meio da escuridão são vestais. É breu puro.

____Após a leitura de Tesselário, cerro fileira junto aos leitores de Geraldo Lima. Autor singular e polissêmico, escritor que celebra fractais como se abraçasse o cosmo, a nós todos, os esquecidos e os que virão, infinitamente.


*Denison Mendes é autor do livro Bonsais Atômicos, selo 3x4 (Multifoco/RJ).

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