terça-feira, 28 de agosto de 2012

Gritos


 Por Geraldo Lima

De repente o tempo fechou dentro do salão. Vi um brilho de metal luzir sob a luz da lâmpada e dezenas de pessoas precipitarem-se em direção à porta. A porta, como era de se esperar, tornou-se estreita demais para tantos corpos, para tanto desespero. Consegui vazar pela janela e sumi dentro do breu. Parei uns quinhentos metros depois, sem ar nos pulmões e coragem para avançar no escuro. Então fechei os olhos e tapei os ouvidos para não ouvir nada, nem o tinir do aço nem o estalido  das armas de fogo. Mas na mente, sem que eu pudesse  interromper, a cena continuou a desenrolar-se violenta e gangrenada.


(Texto publicado, originalmente, no Jornal Opção, em Goiânia, e no site O BULE)

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