sábado, 18 de agosto de 2012

Sílvia


Pintura de Guignard
Por Geraldo Lima

Quando a amiga disse que a viu saindo de uma churrascaria com o marido, numa sexta-feira à noite, Sílvia estranhou, mas não deu muita importância ao fato. Vez ou outra ela e o marido iam mesmo a restaurantes e churrascarias, e dia desses eles tinham ido acompanhados dos filhos. Deve ter sido nesse dia. Mas quando a amiga acrescentou que ela e o marido estavam com a corda toda, pois os vira entrando num motel, numa sexta-feira à tarde, se não lhe falhava a memória, aí então Sílvia estremeceu, sentiu uma pontada no peito, e a amiga percebeu na hora que ela havia mudado de cor.

– Tem certeza que era eu e meu marido?, perguntou engasgada, como se de repente  lhe faltasse ar nos pulmões.

A outra disse que sim, que não tinha dúvidas: eram eles sim, a menos que  tivessem  sósias. 

Sílvia sentiu a sola dos pés e a palma das mãos gelarem como se o sangue estivesse vazando todo do seu corpo. Resistiu à vertigem e manteve-se de pé.  Um raio pareceu ter lhe atravessado o cérebro, abrindo uma clareira enorme  – no mesmo instante, a imagem da irmã gêmea univitelina tomou-lhe a mente de assalto.

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