quinta-feira, 7 de março de 2013

Um breve comentário sobre o filme 'Chocolate'




Por Geraldo Lima


No filme “Chocolate” (2000), dirigido pelo sueco Lasse Hallström, o olhar tem uma importância primordial. É através dele que se tornam visíveis os elementos que compõem a vida cotidiana dos moradores de uma fictícia cidade no interior da França. Está lá o olhar de medo, de obediência ao poder fiscalizador do conde Paul de Reynaud (Alfredo  Molina), guardião da tradição e dos bons costumes. É ele que comanda a vida na cidade, que decide sobre o destino das pessoas. Mas eis que, nesse reino de ilusória tranquilidade, irrompe o elemento desestabilizador, o nômade que traz a novidade, o desapego às normas locais, à rotina.  O que resulta disso é o choque, a batalha para se estabelecer (ainda que em caráter provisório) e o esforço para manter a vida na sua rotina de aparente felicidade. Daí a importância que ganha o olhar de curiosidade, de fascinação pelas guloseimas produzidas por Vianne Rocher (Juliette Binoche). Sua Chocolataria vai se tornar o ponto de atração e sedução de boa parte dos moradores do lugar, o ponto de partida para uma mudança radical no modo de vida de algumas pessoas. Em certo sentido, a libertação do julgo, da violência, do preconceito.  É a partir dali, com a disposição dos produtos de chocolate na vitrine e nas prateleiras, que se irradiará uma força capaz de romper o clima de temor às regras impostas pelo conde. Ele mesmo será arrastado por essa força de atração e se fartará de chocolate até cair no sono. Desse ponto em diante, a cidade se abrirá às surpresas que a vida pode oferecer, ao olhar de ternura, de amor sem receio, de amizade. O espírito nômade de Vienne e Roux  (Jonhnny Depp)  se integrará ao fluir manso e enraizado do lugar. Belo filme. Ótimo para pensarmos sobre a ideia de pertencimento, no ser nômade, e na sensação de opressão num ambiente extremamente regulado por códigos de conduta.  


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